Editorial

Desqualificados

Pela segunda vez em 20 dias, o Congresso Nacional deu prova do despreparo de grande parte de seus integrantes para lidar com temas de grande interesse da sociedade. Ontem, assim como ocorrido no dia 28 de março durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara – a mais prestigiada da Casa –, parlamentares voltaram a transformar um debate sobre segurança pública em batalha de ofensas e deboches. Desta vez, o episódio foi protagonizado durante encontro da Comissão de Segurança, que, a exemplo do ocorrido na CCJ, recebeu o ministro da Justiça, Flávio Dino.

O vergonhoso espetáculo de desrespeito estrelado pelos deputados – entre si e, principalmente, perante os brasileiros – choca mais diante do momento vivido pelo País quando se trata do tema segurança. Ainda machucados pelo crime bárbaro que tirou a vida de quatro crianças em uma creche de Blumenau, pais e mães, além de professores e gestores, vivem sob a tensão provocada pelo efeito contágio que tem feito pipocarem novas ameaças de violência contra estudantes Brasil afora. A imensa maioria, felizmente, falsas. Contudo, famílias e educadores permanecem observando – e aguardando – com atenção as ações das autoridades. O que inclui, por óbvio, seus representantes nos poderes Executivo e Legislativo.

Ontem, contudo, deputados de oposição e governistas que estavam na comissão e preferiram trocar farpas reafirmaram a incompetência na tarefa para a qual foram escolhidos e ganham muito bem para exercer: o debate em busca de consensos mínimos e, fundamentalmente, soluções. Houve quem se referisse a colegas de Câmara como “tchuchuca”, quem disparasse xingamentos fora dos microfones e, frente a um clima que culminou com bate-boca generalizado, a sessão foi encerrada sem que houvesse qualquer tipo de conclusão de fato relevante aos brasileiros. Ou seja, em delicado momento atual, ocupou-se a agenda de um ministro de Estado – que, inclusive, também não tem dado exemplo de postura em situações como estas –, mobilizaram-se servidores públicos e estruturas para realizar a reunião, a imprensa organizou-se para a cobertura, cidadãos acompanharam pelos canais do Legislativo e, no fim das contas, o resultado não passou de uma briga recheada de picuinhas ideológicas improdutivas.

Há uma inegável piora na atuação de nossos parlamentares, incapazes de, mesmo com discordâncias existentes e desejáveis, se colocarem como personagens fundamentais para a construção de pontes. O leitor, inclusive, deve perceber isso ao acompanhar seus deputados e senadores pelas redes sociais. Em geral, estes optam por falar mal dos adversários ao invés de apresentar propostas de construção coletiva. Natural, afinal o conflito gerador de likes tende a ser a cortina que esconde os desqualificados.

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